#3 do Caminho e da Virtude




Ultimamente tenho refletido sobre a vida, sobre o tempo que vivemos e o caminho que escolhemos seguir. 😅

Há uns anos descobri “O Livro do Caminho e da Virtude” de Lao Tse que gosto de reler, de quando em vez.

Parece que cada vez que o releio, a sua mensagem simples e misteriosa, vai-se revelando gradualmente.

Este livro faz parte da base de estudo do Taoísmo, mas não sou entendida nesta matéria e encontrei esta obra por acaso. 🔍

O livro começa por esclarecer que o termo taoísta é formado por dois ideogramas chineses:
  • Tao que significa caminho, exprimindo a ideia de origem de todas as coisas; e
  • Diao que significa ensinamento.
Portanto, taoísmo corresponde à tradição que vem do passado, que revela a origem.


Por isso, o Caminho da Imortalidade, objetivo dos taoístas, é denominado Via do Retorno, indicando a volta ao princípio.


Nesse caminho, a virtude é atingida através da mediação de consciência e da compreensão dinâmica do universo, para resgatar a ordem natural da vida.


Ao ler “Os três tesouros segundo a tradição taoísta são: humildade, simplicidade e afetividade” decidi avançar na leitura.


Esta semana, vi partilhas do vídeo do ator Bruce Lee (RIP), reconhecido ícone cultural, ator e cineasta norte-americano, mas também filósofo e lutador de artes marciais, proveniente de Hong Kong, onde nos aconselha a ser como a água, porque assume qualquer forma e, assim, se formos como a água, nós também ganhamos capacidade de adaptação. 

E como estou a precisar de ajuda para me adaptar....😬


E lembrei-me de uma passagem de “O Livro do Caminho e da Virtude”:

A bondade sublime é como a água
A água, na sua bondade, beneficia (...) sem preferência
Permanece nos lugares desprezados pelos outros
Por isso assemelha-se ao Caminho


Viva com bondade na terra
Pense com bondade, como um lago
Conviva com bondade, como irmãos
Fale com a bondade de quem tem palavra
Governe com a bondade de quem tem ordem
Realize com a bondade de quem é capaz
Aja com bondade todo o tempo
Não dispute, assim não haverá rivalidade



Lao Tse terá escrito esta obra durante a sua vida (no período entre 1324-1408 Antes de Cristo), na qual foi responsável pela biblioteca real e, mais tarde nomeado para o cargo de historiador real, do rei Wen, fundador da dinastia Chou, uma das primeiras dinastias chinesas.


E não consigo deixar de partilhar o conteúdo do derradeiro capítulo:


Palavras confiáveis não são belas
Palavras belas não são confiáveis

Quem sabe não é abrangente
Quem é abrangente não sabe

Quem é bom não discute
Quem discute não é bom

O Homem Sagrado não acumula
Quanto mais faz para os homens, mais tem
Quanto mais dá aos homens, mais aumenta

O Caminho do Céu é favorecer e não prejudicar
O Caminho do Homem Sagrado é fazer e não disputar


Será que as virtudes de que fala, continuam relevantes, nos tempos que correm?

Para um obra com mais de 3.000 anos, dá que pensar. 😏


Comentários

  1. Há muita sabedoria por trás dessas palavras. Muitas delas eu não entendo.
    Uma vez comprei esse livro (Tao Te Ching) e pensava que isso se lia como outro livro qualquer. Quando começo a ler é que me apercebo que mais de metade das palavras eu não entendia. Algumas coisas só conseguem ser entendidas em diferentes fases da vida.

    Isso tudo continua relevante. Há quem diga que mais que nunca, dadas as constantes distrações, a nossa impaciência, a nossa indignação e "irritabilidade". A maior virtude de todas é a equanimidade. Para mim é essa a definição do Tao.

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    1. Sobre essa equanimidade que falas, é sem dúvida a maior virtude, a mais difícil de atingir e muitas são as obras antigas (e atuais) que nos dão pistas sobre como lá chegar.

      Fui buscar a obra "Os Yogas Sutras" de Patanjali, porque me lembrei dos seus conselhos, para obter o que o autor chama de "assentamento da mente", ou "tranquilização da mente" que resulta no "Samadhi" (ou seja, o alinhamento e integração dos 3 "eus: o primeiro, tem consciência do corpo, o segundo tem consciência da mente e o terceiro do coração, sob o comando do "eu do coração"), só atingido pela prática continuada do desapego.
      O que pode perturbar a equanimidade? muitas coisas... a falta de sabedoria, a identidade com ego, a perceção de si mesmo como individualidade independente, o desejo (que advém da experiência do prazer), a aversão (que advém da experiência da dor) e o pertencimiento (que advém do desejo de ser aceite por um grupo, ou até mesmo, o desejo de estar dentro do próprio corpo, ou seja o apego à vida).
      Mas aquele que vê a diferença, interrompe as fantasias sobre si mesmo, então a perceção da sua própria natureza torna-se uma experiência direta, presencial. Assim já não há distração, impaciência, indignação ou irritabilidade que o perturbe, porque na mente tranquila "a razão assume um compromisso com a verdade, na sua lógica, na sua significação, na sua vivência e no seu poder de imaginação, livre dos limites impostos pelas convenções sociais".

      Lao Tse também nos dá pistas para atingir esse estado de equanimidade, por exemplo, "quem respira com pureza por alcançar a suavidade pode tornar-se criança", mas também nos lembra que "a nobreza e a grande preocupação situam-se no corpo (...) se não tivesse um corpo com que teria que se preocupar? (...) As pessoas todas têm um ego, somente eu o ignoro considerando-o precário (...) Quem se iguala à Virtude adquire a Virtude, Quem se iguala à perda, perde o Caminho (...) Negando o Caminho irá falecer cedo (...) Quem conhece a si mesmo é iluminado (...) Quem morre mas não perece, eterniza-se".

      O mais difícil é ter a persistência e consistência nesta prática do desapego, que nos permite chegar à equanimidade, e assim nunca perder o Caminho.

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    2. Obrigado pela resposta tão extensiva, Luísa.
      Quando falei em equanimidade realmente estava-me a referir mais ao mundo dos yogis do que ao mundo de Lao Tse. Deste, como disse no comentário, conheço muito pouco. Mas com o teu post fizeste-me pegar o livro outra vez.

      Talvez desde há um ano tenho-me vindo a interessar por esta mensagem do ego, do morrer, do desapego, da não-dualidade.

      Estou a gostar do blog. Keep going.

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