#5 Como as cerejas
Dizem que as conversas são como as cerejas porque seguem-se umas a seguir às outras, de tal forma que é difícil parar. 😅
Para mim, pelos vistos, os livros também são. 😏
Finalmente consegui encontrar o livro que tanta curiosidade me causou, quando há uns anos ouvi Robert Lanza (autor) a apresentar a sua obra.
O livro chama-se "Biocentrism - How Life and Consciousness are the Keys to Understanding the True Nature of the Universe”.
Comecei a lê-lo e eis que ao ver um citação de George Berkeley, na obra de Lanza, e quis perceber qual o referencial de pensamento desse homem… 🤓
Fiz então um parênteses na leitura, para dar início à investigação. 🔎
Berkeley terá nascido em 1685, e foi um reconhecido filósofo irlandês, metafísico talentoso e defensor do idealismo, considerado como um dos três mais famosos empiristas britânicos. Para além da filosofia, o seu interesse abrangia áreas tão diversificadas quanto a religião (foi um sacerdote anglicano), matemática, física, moral, economia e medicina.
As suas obras com maior repercussão foram: "Tratado sobre os Princípios do Conhecimento Humano" (1710) e "Três Diálogos entre Hylas e Philonous" (1713).
A frase que melhor espelha a ideia central da filosofia berkeleyana é: “ser é ser percebido”. 🤔
E de repente já estava a ler a obra "Três Diálogos entre Hylas e Philonous", que, como o próprio nome indica é uma conversa entre dois personagens, Philonous e Hylas, que discutem sobre a possibilidade das coisas que pensamos, realmente podem existir para além das nossas ideias, e qual a origem das nossas ideias. 🤔
Voltando ao exemplo da cereja, que percepcionamos como vermelha, redonda, doce ou amarga, dependendo se está madura ou verde... será que tem existência real, além do que os nossos sentidos alcançam, ou será apenas isso, uma perceção da nossa consciência. 🤔
Começo a vislumbrar os paralelismos da proposta de Robert Lanza com o Biocentrismo. 😏
Na sua obra, Berkeley desconstrói conceitos como frio e calor, como amargo e doce, conceitos que estão inerentemente ligados à pessoa que os sente. Não existindo para além disso.
E ao assimilar estas ideias, penso: de fato, quantas vezes, alguém me diz "o café está muito quente" e eu ao prová-lo, nesse instante, considero que está morno. Ou alguém prova uma cereja, logo se arrepiando dizendo "que amarga que é, prova." E eu ao prová-la sinto apenas doçura. O calor e o frio, o doce e o amargo, realmente não existem por si só, precisam sempre de uma mente que os possa sentir 😐
Berkeley passa em revista vários conceitos ligados ao paladar, olfato, audição, visão (cores e luz), movimento, solidez, após os quais explora, "a ação da mente" e a "conceção da existência exterior à mente".
Para mal dos meus pecados, no meio da investigação, dou conta que existe um livro chamado "O Mundo de Sofia", publicado nos anos 90, do século passado, que é uma espécie de romance filosófico, do escritor Jostein Gaarder.
O livro conta a história de uma jovem chamada Sofia, que começa a receber uns bilhetes misteriosos, antes de completar o 15.º aniversário, onde constam perguntas do género: de onde viemos?, o que somos?, qual a origem e o sentido da vida?, enfim, as questões fundamentais que a filosofia, a ciência e a religião tentam responder.
Sofia inicia uma viagem pelo mundo da filosofia e dos seus pensadores, ao longo do tempo, e com diversas conceções e posiocionamentos.
Uma das questões que é colocada a Sofia é, exatamente, que há de real em tudo que percebemos pelos nossos sentidos ou ideias que pensamos.
Estão a imaginar? Mais um livro na lista para ler. 😅
"O que é real?" é, sem dúvida, o que Berkeley discute no diálogo imaginário entre Hylas e Philonous.
Uma pergunta tão pertinente que está adjacente ao livro que vos falei de Robert Lanza.
Mas também parecer inspirar outros sucessos mais mediáticos, como a saga de filmes Matrix que conta a história de um homem (Neo), que quer libertar a humanidade do controlo de um super-computador, que provoca a ilusão nas pessoas, de que elas sentem e pensam por si, quando na verdade, tudo não passa de efeitos produzidos pelo super-computador ao qual todos estão ligados desde o nascimento.
Matrix, então, é a história de Neo a tentar escapar do super-computador, do sistema, da matrix, chamando a atenção para a questão levantada por Berkeley:
Será que estamos presos a um mundo de meras perceções, sem nunca aceder ao mundo real?
Quando estamos a sonhar, vemos, ouvimos e tocamos (sem usar a visão, a audição ou o tacto). As sensações são o mais "real" que há. No entanto "não passa de um sonho". Possivelmente como o sonho onde estou neste momento a escrever este comentário.
ResponderEliminarYoung Monk: “Do not try and bend the spoon—that’s impossible. Instead, only try to realize the truth.”
Neo: “What truth?”
Young Monk: “There is no spoon.”
Devo ter lido o "O Mundo de Sofia" numa das suas primeiras edições em português, em meados dos anos 90. Gostei muito. E já o ofereci n vezes a jovens curiosas/os :-)
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