#7 Let's get personal
O texto que se segue é o culminar do projeto 2 "Let's get personal", do Manual Avançado de Comunicação Storytelling, da Toasmasters International.
O objetivo do segundo projeto é aprender quais são os elementos de uma boa história, criar e contar uma história original, baseada na experiência pessoal.
Hoje, dia 10.05.2020, tive a oportunidade de contar a história, na sessão online, do Figueira da Foz Toastmasters Club.
O feedback foi positivo.
Agradeço aos avaliadores do discurso que identificaram os pontos fortes da história, e também os pontos de melhoria.
Sabendo o que posso melhorar tenho a possibilidade de evoluir a cada novo projeto.
Toasts! 🥂
Título do discurso: Lu Isa
O meu nome é Luísa, algumas pessoas tratam-me por Luisinha, outras por Lu e outras ainda por Isa. (E claro, uma pessoa trata-me por mãe, não esquecer!)
Isa, é o meu alter-ego mais imaturo, mais mimado, mais irresponsável. E marca a minha vida universitária.
Nessa fase, fabriquei uma personalidade expansiva, extrovertida, tinha um repertório notável de anedotas que era capaz de entreter um grupo, uma noite inteira.
A única condição que tinha de estar assegurada era passar a todas as disciplinas em junho. E apesar da vida louca, esse objetivo foi sempre atingido, e atrevo-me a dizer, sem grandes dificuldades.
Nessa fase, fabriquei uma personalidade expansiva, extrovertida, tinha um repertório notável de anedotas que era capaz de entreter um grupo, uma noite inteira.
A única condição que tinha de estar assegurada era passar a todas as disciplinas em junho. E apesar da vida louca, esse objetivo foi sempre atingido, e atrevo-me a dizer, sem grandes dificuldades.
Apesar dessa popularidade, na verdade, não me sentia feliz. Essa personagem que criara estava longe do que eu realmente era e criava-me períodos de crises existências.
Havia um rapaz na minha turma, que levava uma vida dedicada ao estudo, nunca saia e com quem praticamente não tinha contato, quer nas aulas, quer fora das aulas.
Vou lhe chamar R.
A nossa amizade iniciou-se no autocarro e a cada viagem partilhada, fui começando a saber mais sobre ele.
Tinha sido um promissor jogador de futebol mas depois de uma lesão não pode mais jogar.
Tinha uma namorada que ele adorava e a quem se dedicava completamente.
Achava-se muito feio.
“Isa, eu sou tão feio! Quando tiver dinheiro quero fazer uma plástica, quero arranjar estes dentes” dizia-me frequentemente.
Lia grandes autores, sabia tanta coisa em comparação comigo.
E escrevia poesia mas ninguém sabia.
A nossa amizade cresceu e, em todas as viagens, ele lia-me os seus novos poemas.
E eu adorava ouvi-lo.
Achava que ia ser um escritor pois tinha tanto talento.
Eu, uma pessoa com aparência e conduta tão superficial e insolente, encontrava em R, e nos seus poemas, a profundidade do sentir com alma e coração.
Não me lembro de nenhum poema mas lembro-me do que sentia ao ouvi-lo.
Ainda hoje associo-os a sofrimento.
Esta amizade improvável foi crescendo.
Eu continuava a não valorizar os professores e as aulas.
Afinal continuava a ter boas notas, sem grande esforço.
E foi, numa dessas fases em que me sentia vazia, sem nenhum interesse em particular, a não ser sair à noite, que R. me lançou um desafio.
“Isa, eu vejo que te sentes perdida. Se me deixares, vou-te emprestar livros que me marcaram e que te podem ajudar a te sentires melhor, te podem preencher esse vazio que sentes. Vou zelar por ti.”
Iria dar-me a conhecer grandes autores.
Obras que iriam impactar-me, que iriam ajudar a forjar o meu caráter, que me iriam densificar, além da felicidade fácil.
E nas nossas viagens de autocarro, ao longo de 4 anos, aprofundamos esses temas e falávamos sobre as grandes questões existenciais.
Nessa altura, deu-me a conhecer Alexandre Dumas, mais conhecido por ter escrito os 3 Mosqueteiros.
Pela mão de R, li todas as obras do Conde de Monte Cristo.
Sem dúvida que a história do Conde de Monte Cristo me marcou.
É um romance sobre o Destino, onde Edmond Dantès, o personagem principal, é ao mesmo tempo, vítima e vingador, encarnando ele próprio, o destino.
É a história de um homem bom a quem roubam a liberdade e o amor e que regressará coberto de riquezas, vingando-se de todos, acima de toda a lei humana ou divina.
Nessa altura percebi que nunca seria uma pessoa vingativa.
A vingança traz muito sofrimento.
E eu nunca gostei de sofrer.
R. dizia que eu era a sua Valentina, personagem do enredo, e que iria sempre zelar por mim. E dizia-me: "bem, não falemos de coisas tristes, Isa. Sei que não gostas!"
Terminei a licenciatura e o meu contato com R acabou.
Muitas vezes me pergunto se se tornou escritor, se fez alguma plástica. Enfim, pergunto-me se será feliz.
Mas existem pessoas que nunca serão felizes.
Pouco tempo depois de R. ter desaparecido da minha vida, T. veio preencher esse vazio.
T. não faz fretes e assume frontalmente que não faz parte deste tempo.
Deu-me a conhecer outros autores e outras leituras.
Somos amigas há 21 anos.
Se não tivesse sido sua colega de trabalho, onde desenvolvemos uma grande cumplicidade, talvez fosse pouco provável termos iniciado qualquer relacionamento.
Descendente do cruzamento da Maçonaria com a Opus Dei, o seu pensar é profundamente influenciado pela religião Católica e extremamente atormentado.
Vou lhe chamar R.
A nossa amizade iniciou-se no autocarro e a cada viagem partilhada, fui começando a saber mais sobre ele.
Tinha sido um promissor jogador de futebol mas depois de uma lesão não pode mais jogar.
Tinha uma namorada que ele adorava e a quem se dedicava completamente.
Achava-se muito feio.
“Isa, eu sou tão feio! Quando tiver dinheiro quero fazer uma plástica, quero arranjar estes dentes” dizia-me frequentemente.
Lia grandes autores, sabia tanta coisa em comparação comigo.
E escrevia poesia mas ninguém sabia.
A nossa amizade cresceu e, em todas as viagens, ele lia-me os seus novos poemas.
E eu adorava ouvi-lo.
Achava que ia ser um escritor pois tinha tanto talento.
Eu, uma pessoa com aparência e conduta tão superficial e insolente, encontrava em R, e nos seus poemas, a profundidade do sentir com alma e coração.
Não me lembro de nenhum poema mas lembro-me do que sentia ao ouvi-lo.
Ainda hoje associo-os a sofrimento.
Esta amizade improvável foi crescendo.
Eu continuava a não valorizar os professores e as aulas.
Afinal continuava a ter boas notas, sem grande esforço.
E foi, numa dessas fases em que me sentia vazia, sem nenhum interesse em particular, a não ser sair à noite, que R. me lançou um desafio.
“Isa, eu vejo que te sentes perdida. Se me deixares, vou-te emprestar livros que me marcaram e que te podem ajudar a te sentires melhor, te podem preencher esse vazio que sentes. Vou zelar por ti.”
Iria dar-me a conhecer grandes autores.
Obras que iriam impactar-me, que iriam ajudar a forjar o meu caráter, que me iriam densificar, além da felicidade fácil.
E nas nossas viagens de autocarro, ao longo de 4 anos, aprofundamos esses temas e falávamos sobre as grandes questões existenciais.
Nessa altura, deu-me a conhecer Alexandre Dumas, mais conhecido por ter escrito os 3 Mosqueteiros.
Pela mão de R, li todas as obras do Conde de Monte Cristo.
Sem dúvida que a história do Conde de Monte Cristo me marcou.
É um romance sobre o Destino, onde Edmond Dantès, o personagem principal, é ao mesmo tempo, vítima e vingador, encarnando ele próprio, o destino.
É a história de um homem bom a quem roubam a liberdade e o amor e que regressará coberto de riquezas, vingando-se de todos, acima de toda a lei humana ou divina.
Nessa altura percebi que nunca seria uma pessoa vingativa.
A vingança traz muito sofrimento.
E eu nunca gostei de sofrer.
R. dizia que eu era a sua Valentina, personagem do enredo, e que iria sempre zelar por mim. E dizia-me: "bem, não falemos de coisas tristes, Isa. Sei que não gostas!"
Terminei a licenciatura e o meu contato com R acabou.
Muitas vezes me pergunto se se tornou escritor, se fez alguma plástica. Enfim, pergunto-me se será feliz.
Mas existem pessoas que nunca serão felizes.
Pouco tempo depois de R. ter desaparecido da minha vida, T. veio preencher esse vazio.
T. não faz fretes e assume frontalmente que não faz parte deste tempo.
Deu-me a conhecer outros autores e outras leituras.
Somos amigas há 21 anos.
Se não tivesse sido sua colega de trabalho, onde desenvolvemos uma grande cumplicidade, talvez fosse pouco provável termos iniciado qualquer relacionamento.
Descendente do cruzamento da Maçonaria com a Opus Dei, o seu pensar é profundamente influenciado pela religião Católica e extremamente atormentado.
Mas curiosamente o seu autor preferido é Nietzsche, um crítico acérrimo da religião, da moral e da cultura contemporânea. "Um cínico de merda", nas palavras de T.
Tudo em T. é profundo e triste.
“Lu, aprende a fazer boa companhia a ti própria”! Diz-me em todos os nossos encontros.
Uma máxima que repete “Quando olhas muito tempo para um abismo, o abismo olha para ti.”
T. não tem senso comum, não é sociável e não quer, absolutamente, saber o que pensam dela, nem se preocupa, um segundo que seja, a agradar alguém.
Chama-me Lu.
Esta Lu ainda resiste à tristeza e procura a felicidade, mas já sabe a diferença entre o efémero e aquilo que realmente é importante.
Preocupo-me com os que os outros pensam, mas isso já não me imobiliza.
Aceito que possam não simpatizar comigo. “Lu, Não podes ser o tempero de todos os pratos” lembra-me T. amiúde.
E saber isso traz uma certa libertação.
A moral da história é que as amizades improváveis proporcionam grandes aprendizagens, nunca descartes alguém por ser diametralmente oposto a ti.
A diversidade de pontos de vista e formas de estar, acrescentam.
Obrigada aos meus amigos improváveis.
Com eles, sou hoje, mais inteira.
Sou Lu Isa.
Ainda à descoberta.
Uma máxima que repete “Quando olhas muito tempo para um abismo, o abismo olha para ti.”
T. não tem senso comum, não é sociável e não quer, absolutamente, saber o que pensam dela, nem se preocupa, um segundo que seja, a agradar alguém.
Chama-me Lu.
Esta Lu ainda resiste à tristeza e procura a felicidade, mas já sabe a diferença entre o efémero e aquilo que realmente é importante.
Preocupo-me com os que os outros pensam, mas isso já não me imobiliza.
Aceito que possam não simpatizar comigo. “Lu, Não podes ser o tempero de todos os pratos” lembra-me T. amiúde.
E saber isso traz uma certa libertação.
A moral da história é que as amizades improváveis proporcionam grandes aprendizagens, nunca descartes alguém por ser diametralmente oposto a ti.
A diversidade de pontos de vista e formas de estar, acrescentam.
Obrigada aos meus amigos improváveis.
Com eles, sou hoje, mais inteira.
Sou Lu Isa.
Ainda à descoberta.
Como recentemente me escreveu T.:
“torna-te aquilo que és, quando souberes o que isso significa”.
"não podes ser o tempero de todos os pratos" é muito bom!
ResponderEliminarAquilo que é óbvio para alguém pode não ser para outra pessoa. Foi importante reconhecer nessa frase que obviamente existem pessoas que não vão gostar de nós. Parece que me tirou uma grande pressão de cima. Por isso, concordo contigo, foi muito bom :)
ResponderEliminarMuito bonito, L ... hesitei de como te ia tratar
ResponderEliminarMuito bonito Luisinha! forte abraço