Não-desejo




"e não invejemos aqueles que se erguem mais alto do que nós: o que nos parece altura é, na verdade, precipício"

Séneca, in Sobre a Tranquilidade da Alma



Fiquei curiosa sobre René Girard depois de um comentário aqui no blog... 

Fui pesquisar e fiquei ainda mais curiosa pela forma como aborda a confluência entre arte, literatura e ética. 😃


René Girard explica o mimetismo do desejo. 😶

O que ele quer dizer com isto? 🤷

Que eu sou influenciada para desejar algo…. 🙄

Que o meu desejo não é autónomo, nem me pertence só a mim porque as pessoas que eu admiro (os meus modelos) vão me influenciar. 🥴

O que quer dizer que vou ser levada a gostar (ou a desgostar) por influência de terceiros.🤔

Faz sentido! 😏

Ainda a semana passada fiz isso! 😊

Peguei num modelo (Lao Tse), reli o seu Livro do Caminho e da Virtude, com o objetivo de perceber as caraterísticas de um Ser Humano Sábio. 

Conhecendo esses atributos poderia construir a minha identidade por "imitação". 

Então isto é o tal desejo  mimético ou imitativo. 😊


Claro que esse modelo (Lao Tsé) está muito longe de mim. 😶

De certa forma o que ele propõe é de tal forma elevado que parece inatingível. 🙆


René Girard defende que quando mais perto o modelo está de mim e deixa de ser inatingível, maior a tendência para rivalizar com o modelo….. 😶

Começo a querer ser o modelo a partir da posse de um objeto, e aí o modelo deixa de ser modelo e passa a ser rival. 🙄

Como passa a rival? 🤷

Porque passamos a desejar as mesmas coisas e isso gera no mínimo competição e levará ao conflito. 🥴

É o exemplo de uma fantasia (perniciosa) a infiltrar-se em nós. 😲

O nosso desejo não tem nada de original, é assimilado e contagioso. 🤔

Em sociedade, as rivalidades criam conflitos e passa a ser necessária uma forma de controlar a violência. 😶


Já todos ouvimos falar do bode expiatório…. 🤔

René Girard explica que quando a violência gerada pelas rivalidades miméticas aparece, é necessário um mecanismo de controlo da violência para evitar a desagregação (isto é, de todos sermos violentos contra todos)… o mecanismo aparece sobre a forma da violência dirigida contra um único membro do grupo (o bode expiatório) que permitir a criação de uma nova ordem.


O desejo mimético vem desde a existência do Ser Humano. 😶

Hoje abundam "Modelos" que prometem vidas de sonho, impregnando-nos, a cada novo post, com fantasias e desejos… por aquele telemóvel, aquelas férias, aquele emprego…. 😒

Ficamos invejosos dos nossos vizinhos terem o último modelo daquele automóvel, da freguesia ao lado ter aquela piscina… as rivalidades acentuam-se…. 🤔

A violência está à espreita! 🥴


Mas há uma forma de evitar a violência, diz Girard: A conversão. 😶

Segundo ele significa uma mudança de perceção, tendo exatamente a consciência dos afetos, das emoções (inveja, ciúme) porque aquilo que desejamos que, em última instância, é uma imitação… 🙄

Quem nunca comprou algo que desejava e após uma breve euforia, voltou à sensação de vazio para logo desejar outra coisa que preencha esse vazio? 😏


Se não mudarmos de perceção, se não desconfiarmos das nossas certezas e das nossas ilusões, arriscamos a viver no mundo da fantasia…. E como dizem os antigos, "de boas intenções, está o inferno cheio"….viver na fantasia faz-nos ligar ao mal, porque quem nos impede da satisfação de um desejo torna-se objeto de ódio. 🥴

Não é que o mal esteja em mim…. Nem sequer no outro… o mal está entre nós, na medida em que julgamos e acusamos (o outro) para extravasar a violência. 🙄


Girard ao provar que a violência está ligada a este desejo mimético, demonstra que a violência é estrutural, sistémica e que a única forma de lidar é através de um posicionamento ético, o que significa ter consciência dela. 😶


Por isso, Girard defende que é necessário esse desencanto feliz que é a conversão…. perceber que afinal não sou assim tão original…. 🙄


Os estoicos é que têm razão quando nos dizem que para ter a Alma tranquila não podemos cultivar a inveja... que devemos dar pouca importância a todas as coisas e ser apaixonados por nenhuma. 😃


E Lao Tsé também escreveu que o desejo agita e desgasta… Os sábios tem esse posicionamento ético, são conscientes de que a sabedoria só pode ser atingida pelo não-desejo.


Ler Girard e pesquisar sobre a sua obra fez-me entender melhor porquê. 😊


Obrigada 🐌! 😊






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Comentários

  1. Pontos para: capacidade de síntese e assimilação de conceitos. Não sei como consegues mas gosto de ler o resultado!

    Sobre esta ideia da imitação o que me lembro sempre é da situação clássica entre miúdos: se um está a brincar com um brinquedo, outro miúdo vai querer esse brinquedo. Resultado: um deles vai ficar a chorar!

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    Respostas
    1. Obrigada pela dica. Fiquei super curiosa sobre a obra dele sobre a mentira romântica e a verdade romanesca :D

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    2. Com a tua cadência de leitura, logo a noite já tens metade lido :) Fico a aguardar as reflexões sobre a tua leitura da "mentira romântica e a verdade romanesca" porque não entendi este jogo de palavras.

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    3. "mentira romântica e a verdade romanesca" é o primeiro livro do Réne Girard onde ele analisa a obra de cinco grandes autores: Cervantes, Stendhal, Flaubert, Proust e Dostoiévski. Em resultado desenvolve a teria do desejo mimético.

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