Inclinações
Nos últimos dias andei a pensar sobre a diferença entre conhecimento e sabedoria. 🤓
Inspirei-me em 3 livros: "Freedom from Helplessness" de Swami Dayananda Saraswati , "On the Taboo Against Knowing Who You Are" de Alan Watts e "Spiritual Enlightenment: The Damnedest Thing" de Jed Mckenna (sugerido aqui no blog).😊🙏
Tudo começou porque sou curiosa como os gatos. 😺😺😺
Mal recebi a sugestão sobre a obra de Jed Mckenna mergulhei nela. 🏊
Explica com irreverência a diferença entre a iluminação de saber a verdade e outras formas de ilusão no sentido de construir um paraíso na terra. 😶
Parecia que estava a ouvir Alan Watts de novo. 🙄
Notei um certo apreço pela dinâmica de Arjuna com Krishna mas uma critica à via do Bodhisattva, como se sabendo a verdade, a virtude e o pecado tivessem o mesmo valor. 😶
Além disso, defende que a iluminação não é conseguida através de (mais) conhecimento.
Alan Watts acredita que a grande ilusão está enraizada na forma como nos sentimos e nos concebemos como seres humanos, com esta sensação de estar vivo, de ter uma existência e identidade individual. Essa ilusão, ele considera uma espécie de alucinação, de uma sensação falsa e distorcida de nossa própria existência como organismos vivos. Isto porque a maioria das pessoas tem a sensação de que "o seu eu" é um centro separado, de sentimento e ação, vivendo dentro e limitado pelo corpo físico - um centro que "confronta" um mundo "externo" de pessoas e coisas, fazendo contato por meio dos sentidos, com um universo alienígena. 😶
Com Swami Dayananda Saraswati pude perceber melhor sobre a raiz da ilusão de que Watts fala. 😊
Este livro baseia-se no Vedanta (Vedanta - que se baseia nas leis espirituais imutáveis que são comuns às tradições religiosas e espirituais de todo o mundo, onde a "meta do conhecimento" se refere ao estado de autorrealização ou da consciência cósmica). 😶
Pude perceber que o conhecimento precisa de um objeto para ser conhecido e um meio de conhecimento para saber. (por exemplo: olha mas não vejas que estas palavras estão rasuradas… não tens grande escolha. Mesmo que não queiras, vais ver que as palavras estão rasuradas). 😏
Assim percebe-se que o conhecimento vence à vontade. 💪
Podes não ter os meios de conhecimento (por exemplo, seres invisual ou nunca teres visto palavras escritas e assim não te apercebendo que estão rasuradas) e desta forma o conhecimento pode não ocorrer.
Tem de existir uma preparação para haver conhecimento. 😶
Que preparação? 🤷
Os sentidos (visão, audição, tato, paladar, cheiro) e uma mente. 😊
Os meios de conhecimento não são substituíveis (se quiseres ver uma flor amarela, tens de usar os olhos e não os ouvidos).
Só que para saberes um pouco mais, tens de usar outros meios de conhecimento, como a inferência (por exemplo, ouves-me a falar na sala ao lado e inferes/presumes que eu estou a falar com alguém).
Mas não podes trocar meios de conhecimento, por exemplo, não podes trocar a inferência pela perceção.
O vedanta diz-nos que a ação é baseada na vontade, porque podes escolher.
Já o conhecimento está centrado no objeto, o que quer dizer que não tens escolha.
Então como posso mudar as noções erradas sobre mim mesma? 🤷
A ação não resolve. 🤔
Quando existe uma noção errada, só conhecimento ajuda a remover o erro. 🙄
Preciso de conhecimento para saber quem/o que sou.
Se eu analisar a minha procura busca pelo conhecimento, vou descobrir que esse é um conhecimento do que eu não sou..
E conhecimento do que eu não sou não se traduz em sabedoria/iluminação. 🤔
O Vedanta diz-nos que o erro é eu pensar que sou limitada, mortal, infeliz e ignorante. 🤔
O Vedanta dá a solução: afirmando que eu tenho que saber quem sou, quem é o meu 'EU'. 😶
O Vedanta pode ser olhado como uma filosofia, uma escola de pensamento mas o Vedanta é mais um meio de conhecimento: o Autoconhecimento, ou seja, o Conhecimento sobre o que EU SOU. 😊
Então como é que o Vedanta me ajuda a saber quem EU SOU? 🤷
Podemos argumentar que há um milhão de variedades de objetos neste mundo. 🤔
O Vedanta afirma que existem apenas dois tipos de objetos: um sou 'EU' e o outro é 'tudo o resto' (o NÃO-EU). 😊
E o meu corpo físico? 🤷
Poderei pensar que o 'EU' é identificado com o corpo, o que significa que os atributos do meu corpo sou eu: sou baixa, morena,…. 🙄
Mas o Vedanta considera o corpo como parte do mundo (do tal NÃO-EU). 😶
Porque se vejo o corpo é porque ele é diferente de mim. Igual a ver uma árvore: também a árvore é diferente de mim. 😶
Se não vejo seu corpo, se não o conheço, ele não será objeto do meu conhecimento. Mas assim, não poderia usar o meu corpo. O fato de eu usar o meu corpo prova que eu o conheço. 😶
O Vedanta defende que EU NÃO SOU: nem o corpo, nem a mente, nem a memória. 🤔
A minha autoimagem, o meu autojulgamento é baseada na memória, o que significa que EU existia antes da memória.🙄
A memória é algo que eu não posso apagar porque me apetece. 😐
É como um software, que me ajuda a navegar na vida, e ao mesmo tempo, é também a base do meu autojulgamento.
Posso recordar, o que significa que posso observar a minha memória.
No entanto, EU não sou a memória.😶
O Vedanta esclarece que apenas resta uma coisa que pode ser o 'EU': a consciência. 🙄
O Vedanta não diz que o 'EU' é um; o Vedanta diz que é o único.
Significa que não é dual; é 1 não seguido por 2.
O Vedanta és tu e quando compreenderes isto será o Vedanta.
Então a realidade é compreensão disso.
Não há realidade além da compreensão.
Quando entendemos a realidade, sabemos a verdade. (Atinge-se a iluminação).
Voltando ao Jed Mckenna.
Na sua obra ele afirma com despreendimento que depois de superar a noção de que a dualidade (com qualquer nome) é "má" e a unidade (com qualquer nome) é "boa", também se supera qualquer necessidade de "ajudar" ou "salvar" alguém. 🤔
Afirma convicto que não é movido por nenhum motivo ético ou altruísta, nem para aliviar o sofrimento ou libertar os seres. 🤔
Ele simplesmente faz o que faz porque tem inclinação para isso. 😶
Para ele a grande jornada que culmina na permanência na consciência não-dual.
Mckenna escreve que os iluminados veem a vida como um sonho, questionando como é que eles poderiam diferenciar entre o certo e o errado ou o bem e o mal? 🙄
Ou como pensar que uma série de acontecimentos é melhor ou pior que outra série de acontecimentos? 🙄
Qual a real importância de alguma coisa, o que quer que seja, num sonho? 🤷
Acorda e o sonho é desapareceu… como se nunca tivesse existido. 😶
Todos os personagens e eventos que pareciam tão reais simplesmente desapareceram.
O iluminado pode andar e falar no mundo dos sonhos, mas não confunde o sonho com a realidade.
Alan Watts defendia "torna-te naquilo que és", porque se no sonho nada é real, se nada interessa, então não aspires a ser mais nada a não ser aquilo que és. 😶
Ficava sempre desalentada com esta afirmação. 🙄
Mckenna confessa que não faz o que faz porque que precisa ser feito.
Ele não pensa que algo está errado e que ele tem de corrigir.
Ele faz o que faz simplesmente porque se sente inclinado a fazê-lo.
Então EU, mesmo sabendo que isto tudo não passa de um sonho, sinto-me inclinada a almejar por uma atitude mental que deseje beneficiar os outros seres sensíveis, assim ao estilo do bodhisattva, ainda que saiba que tudo e todos são apenas elementos do meu sonho.🙄
Talvez porque não gosto de pesadelos, ou talvez porque sinta uma certa preferência por sentimentos de paz, harmonia e contentamento. 😏
Ou simplesmente seja esta a minha inclinação! 😊
Adorei a última frase "Não é que isto interesse para alguma coisa... "
ResponderEliminarFicou-me também a frase "Assim percebe-se que o conhecimento vence à vontade. 💪"
Sempre me confundiu isto:
"Ele não pensa que algo está errado e que ele tem de corrigir.
Ele faz o que faz simplesmente porque se sente inclinado a fazê-lo. "
Muitas vezes pergunto-me: qual a diferença entre uma coisa que estamos inclinados para fazer e outra coisa que fazemos porque resistimos à realidade. Isto para mim é uma grande questão!
Ultimamente tenho pensado mais nos sonhos. (não sei se já disse isto aqui) Nos sonhos consigo sentir as mesmas sensações que sinto quando estou acordado. Ainda há dois dias acordei porque senti um empurrão nas costas e um grito. Ora isso tudo estava no sonho. E a pergunta que me faço é: se sinto isso tudo nos sonhos tal como quando estou acordado, não será isto também um sonho?
Não tem nada a ver mas tens alguma coisa na tua literatura sobre desejos fabricados e desejos que são mesmo nossos?
EliminarAcho que só saberás a diferença entre estar inclinado para fazer e fazer porque resistes, quando te conheceres bem (os teus valores, aquilo de que não abdicas, no sentido do EU SOU ....) Não sei se o Watts e o Mckenna concordam comigo. Ainda assim as inclinações a que se refere Mckenna não devem ser de instinto.... porque assim eramos todos animais e não Seres Humanos. O Ser Humano tem de ter mais uma camada que serve de guia na tomada de decisão. Quanto a literatura sobre sonhos, recomendo o grande Carl Gustav Jung (com o "estudo dos sonhos e de desenhos, Jung passou a se dedicar profundamente aos meios pelos quais se expressa o inconsciente. (...) o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos". Para saberes mais sobre os arquétipos tens o livro "O Homem e seus Símbolos".
EliminarSobre os arquétipos, tenho uma ideia básica do que são. Quanto aos sonhos realmente nunca li nada sobre isso e é uma coisa que me intriga.
EliminarObrigado pelas recomendações Luísa