Transições

 


A  tradição do Tibete e o Bardo Thodol

Nas últimas semanas andei às voltas com o Bardo Thodol (Bardo refere-se a transição e Thodol a libertação, i.e. a libertação que pode ocorrer na transição da vida, para a morte e, de novo, para o eventual renascimento). 😊

A mensagem do Bardo Thodol resume-se no fato de que a Arte de Morrer é tão importante quanto a Arte de Viver (ou de Chegar ao Nascimento), visto que nesta tradição são complementares, já que o futuro do Ser depende de uma morte corretamente controlada (ou consciente).😶

O objetivo supremo é a libertação (isto porque a meta final do Ser Humano, tal como os sábios aqui ensinam, é a transcendência sobre o transitório) mas se após todos os esforços e orientações esta libertação não for conseguida, ensina a lidar com o impulso ou o desejo do renascimento para consegui-lo de forma mais elevada ou favorável. 🤔 

Neste contexto, a "Liberdade é atingir o Estado Supremo chamado de Vazio, de Nirvãna e de outros nomes" (…) "é a Experiência Perfeita que é o estado de Buda, o qual, também, a partir do aspeto cognitivo, é a Consciência desobscurecida pelas trevas da Inconsciência, ou seja, a consciência livre de qualquer limitação. Sob o aspeto emocional, é pura Bem-aventurança, não afetada pela aflição (…). 

O Bardo Thodol ou o Livro Tibetano dos Mortos propõe que aquele que está para morrer, possa enfrentar a morte de forma lúcida e calma, com a mente treinada e orientada, transcendendo, se for necessário, os sofrimentos e doenças do corpo, como se tivesse podido praticar durante sua vida ativa a Arte de Viver, e, próximo da morte, a Arte de Morrer. 😶

O enquadramento de contexto é importante, já que tanto os budistas, como os hindus acreditam que o último pensamento que ocorre no momento da morte determina o caráter da próxima encarnação (ou da libertação). Isto quer dizer que o processo de pensamento de uma pessoa moribunda é muito relevante e deve ser corretamente orientado, de preferência por ela mesma, como se ela houvesse sido iniciada ou psiquicamente treinada para encontrar a morte. 😶
Mas esta abordagem à pessoa no leito da morte, não obriga a nenhuma religião em particular, mas advoga que é fundamental acreditar em algo superior, ou sagrado. 😊

Referências a esta questão do último pensamento, podem ser encontradas no texto religioso hindu "Bhagavad-Gita" (ou canção do bem-aventurado - que faz parte do poema épico indiano "Maabárata") quando Krishna (Deus) diz a Arjuna (o herói e discípulo): "Atinge-se qualquer estado (do ser) no qual se pensa por último, quando, abandonado o corpo, se estiver sempre absorto nesse pensamento" e, também, no "Dhammapada" (um escrito que se acredita ter sido realizado pelo próprio Buda): "Tudo o que somos é o resultado do que pensamos: está fundado nos nossos pensamentos, é composto de pensamentos nossos." 

Já tinha vindo a perceber que ser consciente e domar a mente era fundamental para viver um vida melhor e agora percebi que depois da vida também é relevante. 😏

Quem já tentou ser mais consciente com a sua mente sabe bem que é uma tarefa exigente, sempre em execução, porque a mente apresenta um infindável desfile de pensamentos, um após o outro, e se fossem só pensamentos prazerosos ou felizes talvez ninguém se importasse muito, mas muitas vezes são pensamentos que nos deixam inquietos, ansiosos e, na verdade, não tem outra utilidade a não ser atazanar-nos o juízo, tanto que às vezes os pensamentos passam na nossa mente, nem sequer são nossos (como percebi quando refleti sobre imaginação e fantasia I e II). 🙄

A questão é se não treinarmos a mente em vida, no momento de transição irá tornar-se uma tarefa extremamente difícil. 😶

Possa a mente ser de diamante e o coração puro, quer durante a vida, quer depois. 🙏
Porquê? 🤷
Porque "Aquele que carecer de discernimento, cuja mente for instável e cujo coração for impuro, não alcançará jamais a meta, e, sim, nascerá repetidas vezes. Contudo, aquele que possui discernimento, cuja mente está firme e o coração puro, este alcançará a meta, e, alcançando-a, não estará mais sujeito ao renascimento." e atinge a tal libertação.

No final do prefácio da segunda edição, sobre a correta orientação do pensamento do moribundo termina com este velho provérbio Hebreu que nos lembra que "O homem é aquilo que ele pensa em seu coração." 

Nem poderia ser de outra forma!

E como não existem acasos, hoje foi-me oferecido o livro Fédon, de Platão que é o "diálogo sobre o dia da morte de Sócrates e versa a alegria de um homem justo perante a morte" e representa o escrito fundamental de Platão, sobre a Imortalidade da Alma. 😃

Porque estaria Sócrates alegre na eminência da sua morte? 🤷
Porque o poderá mais querer um verdadeiro filósofo do que morrer para provar a imortalidade da alma?  😏

Nos últimos momentos de vida, também Sócrates, nos exorta a vivermos "uma virtude feita de pensamento", pois desta forma estamos a cuidar de nós mesmos, por amor, ao nos empenharmos nos prazeres da sabedoria (a temperança, a justiça, a coragem, a liberdade e a verdade),  já que a recompensa é bela: 
-"ascendem às alturas da morada pura" (…) 
-"e os que se purificaram suficientemente no exercício da filosofia, vivem para todo o porvir, sem corpo e passam a viver em moradas ainda mais belas que as precedentes"….  

Estou em crer que, esta última frase, é outra forma de descrever "libertação". 🙄
Talvez "viver para todo o porvir ... em moradas ainda mais belas" seja o equivalente ocidental para o "Estado Supremo", "Experiência Perfeita" ou "Estado de Buda". 😊




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Comentários

  1. Gosto da expressão "estado de Buda".

    Eu anseio por no dia que estiver à beira da morte não ter medo dela. Espero nessa altura ter a consciência de que o próximo caminho ser melhor que o atual. E se isso for verdade, porquê ter medo de morrer?

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    Respostas
    1. Segundo o Bardo Thodol, a primeira coisa a aparecer, na transição da vida para a morte, é a Clara Luz e que nos devemos identificar com ela (e assim evitar a reincarnação).... lembrei-me daqueles relatos de quase morte sobre a luz brilhante. :) Acontece que não tendo a certeza absoluta do que acontece depois apenas nos resta duas alternativas: medo ou fé, ou alternar entre os dois.

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