#1 Recomeçar



Faz hoje precisamente um mês que estou em isolamento social.

😬 O objetivo de criar um blog e escrever 8 posts durante um mês não foi atingido.

Não me apetecia escrever sobre comunicação, nem sobre liderança. 😔

Mantenho contato com meia dúzia de pessoas, uma delas é uma espécie de eremita dos tempos modernos.

Há uns dias falou-me sobre Séneca, contemporâneo de Jesus, estadista famoso e conselheiro do Imperador Nero.




Curiosa, fui pesquisar mais sobre este homem. O fato de, ao dia de hoje, mais de 100.000 pessoas terem perdido a vida devido ao COVID-19, deu-me o impulso de ler um dos seus escritos: De Brevitate Vitae ("Sobre a brevidade da vida"), onde nos apresenta a sua perspetiva sobre a vida, o tempo, e o que fazemos com ele.

E como se mantém atual!

Pode ler-se o seguinte “Não é curto o tempo que temos, mas dele muito perdemos. A vida é suficientemente longa e com generosidade nos foi dada, para a realização das maiores coisas, se a empregamos bem. Mas, quando ela se esvai no luxo e na indiferença, quando não a empregamos em nada de bom, então, finalmente constrangidos pela fatalidade, sentimos que ela já passou por nós sem que tivéssemos percebido. O fato é o seguinte: não recebemos uma vida breve, mas a fazemos, nem somos dela carentes, mas esbanjadores. Tal como abundantes e régios recursos, quando caem nas mãos de um mau senhor, dissipam-se num momento, enquanto que, por pequenos que sejam, se são confiados a um bom guarda, crescem pelo uso, assim também nossa vida se estende por muito tempo, para aquele que sabe dela bem dispor.

Por outras palavras, devemos ser ciosos do tempo da nossa vida, não o desperdiçando e aproveitando cada segundo precioso para “estender” a vida o mais possível.

Fiquei ainda mais curiosa.

Então como posso estender a minha vida?

Dedicando-me ao presente?

Realizando grandes feitos?



Séneca convida-nos a fazer um exercício de memória perguntando "quando tiveste uma resolução seguida?" E vaticina que, a maioria de nós, não conseguiu viver um dia que seja, da forma como planeámos.

E eu, questiono-me com ele: Quando tempo empreguei comigo mesma? Imperturbável e com o ânimo inabalável?

O isolamento social não ajuda a manter o ânimo em alta, mas, na verdade, Séneca tem razão. O sofrimento desnecessário, o descontentamento é uma forma de desperdiçar a vida. Séneca diz que "é uma forma de morrer prematuramente".

Mas reparem, ele também nos diz que as grandes paixões ou inúteis conversas absorvem o nosso tempo. E diz algo que me fez pensar melhor: “um homem ocupado não pode fazer nada bem (…) ocupado em coisas diversas, não se aprofunda em nada, mas, pelo contrário, tudo rejeita, pensando que tudo lhe é imposto. Nada é menos próprio do homem ocupado do que viver, pois não há outra coisa que seja mais difícil de aprender”. Realmente quem nunca, ao chegar a uma posição que deseja há muito tempo, logo a quer abandonar pensando constantemente “Quando este ano passará?”.

A velhice oprime os “ocupados”, na medida em que os seus espíritos, chegam infantis à velhice, sem dela estar à espera e sem estar preparados e, assim, bruscamente e desprevenidos, estão velhos, pois não sentiram a velhice chegar diariamente. E quanto maior a ocupação, maior o desejo pelo ócio. A sua vida, extremamente breve e agitada, fá-los esquecer o passado, negligenciando o presente e receando o futuro e, quando chegam ao termo das suas existências, compreendem muito tarde que estiveram, muito tempo ocupados, em nada fazer.

Outro erro em que caímos amiúde, é fazer planos a longo prazo, já que protelar “é do maior prejuízo para a vida”. E as expetativas, essas, são o maior impedimento, uma vez que tendendo para o amanhã, fazem-nos perder o momento presente.

Séneca defende que somente são ociosos os homens que estão disponíveis para a sabedoria, acreditando que somente estes vivem, pois gerem bem a sua vida e acrescentam-lhe a eternidade.

A sabedoria que fala, ligada intrinsecamente às questões filosóficas, levam-nos das trevas à luz, que é o mais belo Conhecimento.

Privar com os grandes é entrar em comunhão com a eternidade, pois entregamos o nosso espírito ao ilimitado, ao eterno e, segundo ele, partilhado com os melhores. Pergunta Séneca, o que há de melhor do que “discutir com Sócrates, duvidar com Carnéades, encontrar a paz com Epicuro, vencer a natureza humana com os estoicos ou ultrapassá-la com os cínicos?”

Acredita assim que a dedicação deve ser à Sabedoria e ao Conhecimento, quotidianamente trabalhada com os mestres da virtude, como Zenão, Pitágoras, Demócrito, Aristóteles, Teofrasto que te darão “o acesso à eternidade, te elevarão àquelas alturas de onde ninguém se precipita”.

E todos eles te ensinarão a morrer, nenhum desperdiçará os teus anos, antes oferecendo-te os seus.

Afinal o que é a vida, se não mais que a preparação para a passagem para o outro estado (a morte)?

Comentários

  1. Com textos destes não dá para produzir 8 por mês. Gostei!

    Uma vez li que o nosso estado após a morte é igual ao nosso estado antes de nascermos.

    Faz-nos pensar que não há nada a recear na morte. E que os feitos e as conquistas não têm qualquer importância. Tudo fica para trás.

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  2. Acho que tens razão Caracol. Obrigada pelo feedback 😊

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