#4 Não existe nada mas enquanto há vida, há esperança!
Recentemente, foi veiculado na imprensa que a família de Stephen Hawking doou o ventilador usado pelo físico falecido em 2018 a um Hospital, na cidade inglesa de Cambridge, para ajudar a salvar vidas no combate contra a pandemia de Covid-19.
Stephen Hawking foi um físico inglês, que apesar de paralisado por uma doença degenerativa (esclerose lateral amiotrófica, ou ELA), que nos últimos anos de vida, apenas lhe permitia controlar os movimentos da bochecha direita, conseguia comunicar, assistido por um computador, e, ainda assim, ficou conhecido, internacionalmente, por formular algumas das teorias fundamentais da física moderna.
Completamente dependente, Stephen Hawking, continua a ser um símbolo de resistência perante a adversidade, e apesar das suas incríveis limitações, foi capaz de conquistas que ainda hoje me parecem ficção científica. Uma das muitas frases inspiradoras que nos deixou, é precisamente um apelo a essa capacidade de resiliência que o caracterizava: “Não importa quanto a vida possa ser má, sempre existe algo que se pode fazer, e triunfar. Enquanto há vida, há esperança.”
No verão passado, li o livro "O grande desígnio", precisamente de Stephen W. Hawking e Leonard Mlodinow, onde nos explicam, em linguagem simples e acessível, os grandes mistérios do universo. Debruçam-se sobre importantes temas, como por exemplo, porque estamos aqui ou qual a natureza da realidade.
Perguntas ainda sem resposta, que a filosofia e a física tem tentado responder.
Se a ciência clássica defende que existe um mundo real, com propriedades físicas, bem definidas e independentes de quem as observa. Por exemplo, se virmos "uma manada de zebras a lutar num parque de estacionamento", todos os que observem poderão medir as mesmas propriedades, e a manada terá essas propriedades, independentemente da cena estar a ser observada ou não. E diz-nos que, em filosofia, esta convicção se chama "realismo".
Porém os físicos quânticos (que estudam os sistemas físicos do infinitamente pequeno, por exemplo, se cortarmos uma maçã em fatias cada vez mais finas, até chegar ao átomo, estamos confrontados com o infinitamente pequeno, sistema do qual fazem parte moléculas, átomos e partículas sub-atómicas) vieram baralhar isto tudo, quando descobrem que uma partícula não tem posição, nem velocidade definidas. Só passam a ter, quando medidas por um observador. 🤔 (hei-de voltar a este tema)
Será possível eliminar o observador (ou seja, nós) da nossa perceção do mundo, através do nosso processamento das sensações que sentimos e da forma como pensamos?
Acho que não. O que quer dizer que todas as teorias (ciência clássica ou física quântica) são sempre influenciadas pela forma como, em última instância, o nosso cérebro interpreta.
Quando afirmo que “é real o teclado onde escrevo estas palavras”, cientificamente, o que realmente eu vejo, não é mais que a luz difundida pelo teclado, para criar a imagem mental. 👀
Mas como poderei ter a certeza que o teclado continua a existir se eu sair da secretária e deixar de o ver? 🤔 (hei-de voltar a este tema)
No caso das partículas sub-atómicas, nomeadamente os eletrões (que não conseguimos ver a olho nu), todos os físicos acreditam que existem, o que permitiu desenvolvimentos, por exemplo, ao nível da engenharia.
Para uma leiga na matéria, é extremamente complexo entender estes conceitos e, de quando em vez, procuro mais informação sobre estes temas.
Então, no verão passado, aprofundei o meu conhecimento, pelas mãos de Carl Sagan, um dos maiores astrónomos de sempre e carismático comunicador de ciência, conhecido por realizar a icónica série “Cosmos”, nos anos 70 do século passado.
A primeira edição do seu livro “Cosmos” foi lançada já no início dos anos 80. (Nota mental 1: já não me lembrava que a introdução do livro começa com uma passagem de Séneca. 😍)
Carl Sagan explica que os electrões são eletricamente carregados e determinam as propriedades químicas do átomo. (nota mental 2: A tabela periódica apresenta a disposição sistemática dos elementos químicos ordenados pelos seus números atómicos.)
Os átomos são tão pequenos que 100 milhões de átomos unidos são do tamanho do nosso dedo mindinho. 😲
No interior do átomo, escondido sob a nuvem de eletrões, encontra-se o núcleo (protões e neutrões).
A maior parte da massa do átomo encontra-se no núcleo, e os eletrões ínfimos pairam sobre ele, em contínuo movimento.
O que isto quer dizer, é que os átomos são essencialmente espaço vazio, implicando que a matéria é composta também essencialmente de nada. 👀😕
Se tudo é feito de átomos, e voltando ao teclado e aos meus dedos que teclam, o que impede que os meus dedos se misturem com o teclado? 🤔
A resposta para esta pergunta reside nos electrões e na sua carga eléctrica negativa. Ou seja, o exterior do átomo do meu dedo tem uma carga elétrica negativa e o exterior do átomo do meu teclado tem uma carga elétrica negativa, ambas se repelem e assim não se misturam. 👍
Se as cargas negativas se “desligassem” tudo se desfazia numa poeira fina e invisível. 😱
Se durante milénios, os homens foram oprimidos pela ideia que que o Universo é uma espécie de marioneta manobrada por deuses, há 2.500 anos, na Jónia, surgiram pessoas que acreditavam que tudo era feito de átomos. Os jónios defendiam que o Universo podia ser conhecido devido à sua ordem interna, essas regras presentes na natureza, às quais esta tem de obedecer. A essa ordenação do Universo, chamaram-lhe “Cosmos”. Suspeito que Carl Sagan era fã dos jónios. 😏
E conta-nos também que Demócrito (460 a.C. — 370 a.C.), natural da colónia Jónica, no Norte da Grécia, inventou a palavra “átomo”, que significava “impossível de cortar”, defendendo que tudo era constituído por átomos ligados uns aos outros, incluindo nós.
Concluindo que “Não existe nada, além de átomos e vazio”. 😳😵
E continua atual, a constatação de Séneca sobre o tempo, em que a investigação irá esclarecer coisas, que hoje estão escondidas, porque “a natureza não revela os seus mistérios de uma só vez”.
Que revelações o futuro nos trará sobre a natureza da realidade, sobre a vida, sobre a consciência?
Sugestões de leitura sobre estes temas serão muito bem-vindas 😊
Li um livro no outro dia que é um diálogo que vai passo a passo desconstruindo a realidade física.
ResponderEliminarGostei e tenho que ler outra vez. Porque uma coisa é gostar outra é interiorizar.
Vai ao encontro do tema que falas.
"Refuting the external world"
Podes fazer o download aqui: https://b-ok.cc/book/3425367/ae2563
Obrigada pela sugestão de leitura do “Refuting The External World” de Goran Backlund. Não conhecia a obra e realmente está alinhada com o tema que gostava de aprofundar. Uma leitura muito interessante e, de certa forma, fácil de acompanhar para uma leiga como eu, nomeadamente a desconstrução do conceito de realidade objetiva (ou seja, “do que está lá quando não estamos a olhar”). Gostei da frase “não existe outra coisa que possas experienciar a não ser experienciar a tua própria consciência” que o autor chama de “aparelho para experienciar”. E a preocupação que o autor tem com a condução do raciocínio e com a credibilidade dos seus argumentos, de modo a não ser confundido, pelo mainstream, com os “gurus do lalaland”.
EliminarLembrei-me de uma obra “Biocentrism - How Life and Consciousness are the Keys
to Understanding the True Nature of the Universe” de Robert Lanza (médico, reputado cientista e filósofo americano). Acho que vou fazer um post sobre isso. Stay tuned!
Há uns tempos fui um workshop de yoga onde me foi disponibilizado um pequeno documento - “Reflexões baseadas no Tattvabodhah, 1.a edição, Dharmabindu estudos sobre o yoga e o dharma no âmbito do curso - Quem sou eu?” que me apresentou o conceito de Atma.
Então pode-se ler que “O Atma é real e tudo o mais, diferente dele, é aparente” que é descrito como a testemunha (observador?) dos três estados de experiência, cuja natureza é existência (aquilo que permanece), consciência (natureza do conhecimento que, por sua vez, vem da percepção) e felicidade (plenitude).
Atma, consciência, aparelho de experienciar, de percecionar… penso que tudo isto são sinónimos.
E como Danza nos relembra, George Berkeley (que tem uma Universidade e um cidade com o seu nome, e por isso deve ser credível), chegou a semelhante conclusão: “The only things we perceive, are our perceptions.”